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ORIGEM DAS ESPÉCIES

pouco, mas sempre encimado por um grande pináculo que, cobrindo por toda a parte as células em qualquer grau de avanço a que tenham chegado, permite às abelhas segurar-se aí e aí rastejar sem danificar as paredes tão delicadas das células hexagonais. Estas paredes variam muito de espessura, como foi verificado a meu pedido pelo professor Miller. Esta espessura, segundo a média de doze observações feitas junto do bordo de um favo, é de 1/353 da polegada inglesa (0,07 mm); enquanto que as faces romboidais da base das células são mais espessas na razão aproximada de 3 para 2; a espessura, segundo a média de vinte e uma observações, é igual a 1/229 da polegada inglesa (0,11 mm). Portanto do modo singular de construção que acabamos de descrever, a solidez do favo vai aumentando constantemente, realizando-se a maior economia possível de cera.

A circunstância de um grupo de abelhas trabalharem em conjunto parece, a princípio, aumentar a dificuldade de compreender o modo de construção das células; cada abelha, depois de ter trabalhado um momento numa célula, passa a outra, de modo que, como o fez notar Huber, uma vintena de indivíduos participam, desde o começo, na construção da primeira célula. Pude tornar o facto evidente cobrindo os bordos das paredes hexagonais de uma célula, ou o bordo extremo da circunferência de um favo em via de construção, de uma delgada camada de cera colorida com vermelhão. Reconheci invariàvelmente que a cor fora tão delicadamente espalhada pelas abelhas como se o fosse por meio de um pincel; com efeito, parcelas de cera corada tiradas do ponto onde haviam sido colocadas, foram conduzidas em volta dos bordos crescentes das células vizinhas. A construção de um favo parece, pois, ser o resultado do trabalho de muitas abelhas conservando-se todas instintivamente à mesma distância relativa umas das outras, descrevendo todas esferas iguais, e estabelecendo os pontos de intersecção entre essas esferas, quer levantando-as directamente, quer regulando-as quando as cavam. Em vários casos difíceis, tais como o encontro num certo ângulo de duas porções de favo, nada mais curioso do que observar quantas vezes as abelhas demolem e reconstroem uma mesma célula de diferentes maneiras, voltando por fim, não sempre, a uma forma que a princípio tinham rejeitado.

Quando as abelhas podem trabalhar num lugar que lhes per. mite tomar a posição mais cómoda — por exemplo uma placa de madeira colocada a meio de um favo crescendo para baixo, de modo que o favo seja estabelecido sobre uma face da placa — as abelhas podem então dispor as bases da muralha de um novo hexágono no seu verdadeiro lugar, fazendo saliência para