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ORIGEM DAS ESPÉCIES

riências semelhantemente feitas durante muitos anos por Herbert deram-lhe sempre os mesmos resultados. Estes factos servem para mostrar de que causas misteriosas e insignificantes depende algumas vezes a maior ou menor fecundidade de uma espécie.

As experiências práticas dos horticultores, posto que faltando-lhes precisão científica, merecem, contudo, alguma atenção. É notório que quase todas as espécies de Pelargonium, de Fuchsia, de Calceolaria, de Petunia, de Rhododendron, etc., têm sido cruzadas de mil maneiras; contudo muitos destes hibridos produzem regularmente sementes. Herbert afirma, por exemplo, que um híbrido de Calceolaria integrifolia e de Calceolaria plantaginea, duas espécies tão dessemelhantes quanto possível pelos seus hábitos gerais, «se reproduziu tão regularmente como se fosse uma espécie natural das montanhas do Chile». Fiz vários estudos para determinar o grau de fecundidade de alguns rododendros híbridos, provenientes de cruzamentos mais complicados, e adquiri a convicção que muitos deles são completamente fecundos. C. Noble, por exemplo, ensina-me que obtém por enxertia um grande número de individuos de un híbrido entre o Rhododendron Ponticum e o Rhododendron Carawbiense, e que este híbrido dá sementes em tão grande abundância quanto se pode imaginar. Se a fecundidade dos híbridos convenientemente tratados fosse sempre diminuindo de geração em geração, como Gärtner o pensa, o facto seria conhecido dos horticultores. Estes cultivam quantidades consideráveis dos mesmos híbridos, e é somente assim que as plantas se encontram colocadas em condições convenientes; a intervenção dos insectos permite, com efeito, cruzamentos fáceis entre os diferentes indivíduos e impede a influência nociva de uma consanguinidade muito próxima. Podemos fàcilmente convencer-nos da eficácia do concurso dos insectos examinando as flores dos rododendros híbridos mais estéreis; não produzem pólen e, contudo, os estigmas são cobertos de pólen proveniente de outras flores.

Têm-se feito menos experiências precisas nos animais do que nas plantas. Se pode dar-se crédito às nossas classificações sistemáticas, isto é, se os géneros zoológicos são tão distintos uns dos outros como o são os géneros botânicos, podemos concluir dos factos verificados que, nos animais, indivíduos mais afastados entre si na escala natural podem cruzar-se mais facilmente que entre os vegetais; mas os híbridos que provêm destes cruzamentos são, creio eu, mais estéreis. É preciso, contudo, tomar em consideração o facto de que poucos animais se reproduzem voluntàriamente em cativeiro, e que, por consequência, sòmente têm havido poucas experiências feitas em boas condi-