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ORIGEM DAS ESPÉCIES

ramente híbridos perfeitamente fecundos, ou que estes últimos se tornam fecundos sob a influência da domesticação. Esta última alternativa, mencionada pela primeira vez por Pallas, parece a mais provável, e mesmo quase que não pode ser posta em dúvida.

E, por exemplo, quase certo que os nossos cães descendem de diversas origens selvagens; entretanto todos são perfeitamente fecundos entre sí, exceptuando talvez alguns cães domésticos indígenas da América do Sul; mas a analogia leva-me a pensar que as diferentes espécies primitivas não são, primeiro que tudo, cruzadas livremente e não produzem híbridos perfeitamente fecundos. Contudo, adquiri recentemente a prova decisiva da completa fecundidade inter se dos híbridos provenientes do gado de corcova da India com o nosso gado ordinário. Entretanto, as importantes diferenças osteológicas verificadas por Rutimeyer entre as duas formas, assim como as diferenças nos costumes, na voz, na constituição, etc., notados por M. Blyth, são de natureza a considerá-las como espécies absolutamente distintas. Podem aplicar-se as mesmas observações às duas raças principais do porco. Devemos pois renunciar a dar crédito à esterilidade absoluta das espécies cruzadas, ou temos de considerar esta esterilidade entre os animais, não como um carácter indelével, mas como um carácter que a domesticação pode extinguir.

Em resumo, se se considera o conjunto dos factos bem verificados relativos ao entrecruzamento das plantas e dos animais, pode concluir-se que uma certa esterilidade relativa se manifesta muito geralmente, quer entre os primeiros cruzamentos, quer entre os híbridos, mas que, no estado actual dos nossos conhecimentos, esta esterilidade não pode ser considerada como absoluta e universal.

LEIS QUE REGEM A ESTERILIDADE DOS PRIMEIROS CRUZAMENTOS E DOS HÍBRIDOS

Estudemos agora um pouco mais minuciosamente as leis que regem a esterilidade dos primeiros cruzamentos e dos híbridos. O nosso fim principal é determinar se estas leis provam que as espécies foram particularmente dotadas desta propriedade, em vista de impedir um cruzamento e uma mistura devendo ocasionar uma confusão geral. As conclusões que seguem são geralmente tiradas da admirável obra de Gärtner sobre a hibridação das plantas. Tenho sobretudo procurado assegurar até que ponto