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HIBRIDEZ
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contínua de espécies que, cruzadas, produzem sempre menos sementes, até às que não produzem uma única, mas que, apesar disso, são sensíveis à acção do pólen de outras certas espécies, porque o embrião aumenta. Neste caso é evidentemente impossível que os indivíduos mais estéreis, isto é, os que já deixaram de produzir sementes, façam o objecto de uma selecção. A selecção natural não pode, pois, produzir esta esterilidade absoluta que se traduz por um efeito produzido somente sobre o embrião. As leis que regem os diferentes graus de esterilidade são tão uniformes no reino animal e no reino vegetal, que, qualquer que seja a causa da esterilidade, podemos concluir que esta causa é a mesma ou quase a mesma em todos os casos.

Examinemos agora um pouco mais de perto a natureza provável das diferenças que determinam a esterilidade nos primeiros cruzamentos e nos híbridos. Nos casos dos primeiros cruzamentos, a maior ou menor dificuldade que se encontra em operar uma união entre os indivíduos e obter deles produtos, parece depender de muitas, causas distintas. Deve haver, por vezes, impossibilidade em o elemento macho atingir o óvulo, como, por exemplo, numa planta que tivesse o pistilo muito alongado para que os tubos polínicos pudessem atingir o ovário. Observou-se também que, quando se coloca o pólen de uma espécie no estigma de uma espécie diferente, os tubos polínicos, embora projectados, não penetram através da superfície do estigma. O elemento macho pode ainda atingir o elemento fêmea sem provocar o desenvolvimento do embrião, caso que parece apresentar-se em algumas das experiências feitas por Thuret sobre os fucos. Não se poderiam explicar estes factos como não se poderia dizer porque certas árvores não podem ser enxertadas em outras. Enfim, um embrião pode formar-se e morrer no começo do seu desenvolvimento. Esta última alternativa não foi objecto da atenção que merece, porque, segundo as observações que me foram comunicadas por M. Hewitt, que tem uma grande experiência de cruzamentos de faisões e de galinhas, parece que a morte precoce do embrião é uma das causas mais frequentes da esterilidade dos primeiros cruzamentos. M. Salter examinou recentemente quinhentos ovos produzidos por diversos. cruzamentos entre três espécies de Gallus e seus híbridos, em que a maior parte havia sido fecundada. Na grande maioria dos ovos fecundados, os embriões tinham-se desenvolvido parcialmente, pois tinham morrido, ou melhor tinham chegado à maturação, mas os pintainhos não puderam quebrar a casca do ovo. Quanto aos pintainhos saídos, os cinco sextos morrem desde os primeiros dias ou as primeiras semanas, sem causa