Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/322

296
ORIGEM DAS ESPÉCIES

e amarelas, se obtêm menos sementes do que quando se fecundam estas variedades com o pólen das variedades da mesma cor, Afirma, além disso, que quando se cruzam as variedades amarelas e brancas de uma espécie com as variedades amarelas brancas de uma espécie distinta, os cruzamentos operados entre flores de cor semelhante produzem mais sementes do que os operados entre flores de cores diferentes. M. Scott também empreendeu experiências nas espécies e variedades de verbasco, e, embora não pudesse confirmar os resultados de Gärtner sobre os cruzamentos entre espècies distintas, encontrou que as varie dades dessemelhantemente coloridas de uma mesma espécie cruzadas em conjunto dão menos sementes na proporção de 86 por 100, que as variedades da mesma cor fecundadas uma pela outra. Estas variedades diferem contudo apenas pela cor da flor, e algumas vezes uma variedade se obtém da semente de uma outra.

Kölreuter, de quem todos os observadores subsequentes têm confirmado a exactidão, estabeleceu o facto notável de que uma das variedades do tabaco ordinário é mais fecunda que outras, em casos de cruzamentos com uma outra espécie muito distinta. Fez experiências com cinco formas, consideradas ordinàriamente como variedades, que submeteu à prova do cruzamento reciproco; os híbridos provenientes destes cruzamentos foram perfeitamente fecundos. Além disso, em cinco variedades, uma só empregada, quer como elemento macho, quer como elemento fêmea e cruzada com a Nicotiana glutinosa, produziu sempre híbridos menos estéreis que os que provêm do cruzamento das outras quatro variedades com a mesma Nicotiana glutinosa. O sistema reprodutor desta variedade particular deve ter sido modificado de alguma maneira e em qualquer grau.

Estes factos provam que as variedades cruzadas não são sempre perfeitamente fecundas. A grande dificuldade em provar a esterilidade das variedades no estado de natureza — porque toda a variedade suposta, reconhecida como estéril em qualquer grau, será logo considerada como constituindo uma espécie distinta; — o facto de o homem se ocupar somente dos caracteres exteriores nas variedades domésticas, as quais não foram além disso expostas durante muito tempo em condições uniformes — são outras tantas considerações que nos autorizam a concluir que a fecundidade não constitui uma distinção fundamental entre as espécies e as variedades. A esterilidade geral que acompanha o cruzamento das espécies pode ser considerada não como uma aquisição ou como uma propriedade especial, mas como uma consequência de mudanças, de natureza desconhecida, que afectam os elementos sexuais.