Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/334

308
ORIGEM DAS ESPÉCIES

das do outro, a uma altura ou a uma profundidade de muitos milhares de pés, dão-nos igual lição; porque, desde a época em que estas aberturas se produziram, quer bruscamente, como a maior parte dos geólogos o crêem hoje, quer lentamente em seguida a numerosos pequenos movimentos, a superfície do país está desde então tão bem nivelada, que nenhum vestígio dessas prodigiosas deslocações é exteriormente visível. A fenda de Craven, por exemplo, estende-se numa linha de 30 milhas de comprimento, ao longo da qual o deslocamento vertical das camadas varia de 600 a 3 000 pés. O professor Ramsay notou um enfraquecimento de 2 300 pés na ilha de Anglesey, e diz-me que está convencido que, em Merionethshire existe uma outra de 12 000 pés; contudo, em todos estes casos, nada à superfície mostra estes prodigiosos movimentos, tendo sido completamente esmagados os amontoados de rochedos de cada lado da fenda.

Por outro lado, em todas as partes do globo, os montões das camadas sedimentares têm uma espessura prodigiosa. Vi, nas Cordilheiras, uma massa de conglomerado de que avaliei a espessura em cerca de 10 000 pés; e, se bem que os conglomerados deveriam ter-se aglomerado provàvelmente mais depressa do que as camadas de sedimentos mais finos, são contudo compostos sòmente de calhaus rolados e arredondados que, tendo cada um a impressão do tempo, provam com que lentidão puderam acumular-se massas tão consideráveis. O professor Ramsay deu-me as espessuras máximas das formações sucessivas nas diferentes partes da Grã-Bretanha, segundo as medidas tomadas nos lugares na maior parte dos casos. Eis o resultado:

Pés ingl.
Camadas paleozóicas (não compreendendo rochas ígneas) 37 154
Camadas secundárias 13 190
Camadas terciárias 2 340

— formando um total de 72 584 pés, isto é, cerca de 13 milhas inglesas e três quartos. Certas formações, que são representadas em Inglaterra por camadas delgadas, atingem no continente uma espessura de muitos milhares de pés. Além disso, a acreditar a maior parte dos geólogos, devem ter decorrido, entre as formações sucessivas, períodos extremamente longos durante os quais se não haja formado depósito algum. A massa inteira de camadas sobrepostas das rochas sedimentares da Inglaterra não dá, portanto, mais que uma ideia incompleta do tempo gasto na sua acumulação. O estudo dos factos desta natureza parece pro-