Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/341

INSUFICIÊNCIA DOS DOCUMENTOS GEOLÓGICOS
315

zonas, Boué descreveu uma outra composta de rochas desta natureza tendo uma superfície equivalente à que ocupam Portugal, a Espanha, a França, a Itália, uma parte da Alemanha e as ilhas britânicas reunidas. Esta região não tem sido explorada com o cuidado preciso, mas todos os viajantes afirmam a imensa extensão da superfície granítica; assim, Von Eschwege dá um corte minucioso destas rochas que se estendem em linha recta para o interior até 260 milhas geográficas do Rio de Janeiro; eu mesmo andei 150 milhas noutra direcção sem ver outra coisa do que rochas graníticas. Examinei numerosos especímenes recolhidos em toda a costa desde o Rio de Janeiro até à embocadura do Prata, distância de 1 100 milhas geográficas, e todos estes especímenes pertenciam a esta mesma classe de rochas. No interior, em toda a margem setentrional do Prata, não se me deparou, além de depósitos terciários modernos, mais que um pequeno aglomerado de uma rocha ligeiramente metamórfica, que apenas pôde constituir um fragmento da cobertura primitiva da série granítica. Na região melhor conhecida dos Estados Unidos e do Canadá, segundo a bela carta do professor H. D. Rogers, avaliei as superfícies cortando a própria carta e pesando o papel, e encontrei que as rochas graníticas e metamórficas (com exclusão das semimetamórficas) excedem, numa relação de 19 a 12,5, o conjunto das formações paleozóicas mais novas. Em muitas regiões, a extensão das rochas metamórficas e graníticas seria muito maior, se as camadas sedimentares que repousam sobre elas (camadas que não têm podido fazer parte do manto primitivo debaixo da qual cristalizavam), fossem levantadas. É, pois, provável que, em algumas partes do mundo, formações inteiras fossem desagregadas de uma maneira completa, sem que tenha ficado vestígio algum do estado anterior.

Há ainda uma nota digna de atenção. Durante os períodos de levantamento, a extensão das superfícies terrestres, assim como das partes pouco profundas do mar que as cercam, aumenta e forma deste modo novas estações — tudo circunstâncias favoráveis, como o temos explicado, à formação das variedades e das espécies novas; mas há geralmente também, durante estes períodos, uma lacuna nos arquivos geológicos. Por outra parte, durante os períodos de abaixamento, a superfície habitada diminui, assim como o número dos habitantes (excepto nas costas de um continente no momento em que se fracciona em arquipélago), e, por conseguinte, posto que há numerosas extinções, formam-se poucas variedades ou espécies novas; ora, é precisamente durante estes períodos de abatimento que são acumulados os depósitos mais ricos em fósseis.