Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/365

SUCESSÃO GEOLÓGICA DOS SERES ORGANIZADOS
339

fóssil tornar-se-ia cada vez mais raro, e extinguir-se-ia finalmente, dando o seu lugar na natureza a qualquer concorrente mais feliz.

É difícil ter sempre presente ao espírito o facto de a multiplicação de cada forma viva ser sem cessar limitada por causas nocivas desconhecidas que, contudo, são muito suficientes para determinar a princípio a raridade e em seguida a extinção. Compreende-se tão pouco este assunto, que tenho ouvido muitas vezes exprimir a surpresa que causa a extinção de animais gigantescos, tais como o mastodonte e o dinossauro, como se a força corporal fosse o bastante para assegurar a vitória na luta pela existência. A grande corpulência de uma espécie, pelo contrário, pode arrastar, em certos casos, como Owen o faz notar, mais pronta extinção, devido à maior quantidade de nutrição necessária. A multiplicação do elefante actual deve ter sido limitada por uma causa qualquer antes que o homem habitasse a Índia ou a África. O Dr. Falconer, juiz muito competente, atribui esta paragem no aumento em número do elefante índico aos insectos que o fatigam e o enfraquecem; Bruce chegou à mesma conclusão relativamente ao elefante africano da Abissínia. É certo que a presença dos insectos e dos vampiros decide, em diversas partes da América do Sul, da existência dos maiores mamíferos naturalizados.

Nas formações terciárias recentes, vemos casos numerosos em que a raridade precede a extinção, e sabemos que o mesmo facto se apresenta para os animais que o homem, pela sua influência, tem exterminado local ou totalmente. Posso repetir aqui o que escrevi em 1845: admitir que as espécies se tornam geralmente raras antes da extinção, e não admirar tal facto, para sòmente maravilhar o seu desaparecimento, é como admitir que a doença, no indivíduo, é o antecessor da morte, e se veja a doença sem surpresa, para pasmar e atribuir a morte do doente a um acto de violência.

A teoria da selecção natural é baseada na opinião que cada variedade nova, e, em última análise, cada espécie nova, se forma e se mantém por meio de certas vantagens adquiridas sobre as que consigo entram em concorrência; e, enfim, sobre a extinção das formas menos favorecidas, que é a consequência inevitável. O mesmo se dá com as nossas produções domésticas, porque, quando uma variedade nova e um pouco superior foi obtida, substitui a princípio as variedades inferiores da vizinhança; mais aperfeiçoada, espalha-se cada vez mais, como os nossos bois de chifres curtos, e toma o lugar de outras raças em outros países. A aparição de formas novas e a desaparição