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ORIGEM DAS ESPÉCIES

das antigas são pois, tanto para as produções naturais como para as produções artificiais, dois factos conexos. O número das formas novas específicas, produzidas num tempo dado, deve ter sido, nos grupos florescentes, provàvelmente mais considerável do que o das formas antigas que foram exterminadas; mas sabemos que, pelo menos durante as épocas geológicas recentes, as espécies não têm aumentado indefinidamente; de maneira que podemos admitir, no que diz respeito às épocas mais recentes, que a produção de novas formas determinou a extinção de um número quase igual de formas antigas.

A concorrência é geralmente mais rigorosa, como com exemplos o demonstrámos já, entre as formas que se semelham em todos os pontos de vista. Por conseguinte, os descendentes modificados e aperfeiçoados de uma espécie causam geralmente o extermínio da origem-mãe; e se muitas novas formas, provindo de uma mesma espécie, conseguem desenvolver-se, são as formas mais próximas desta espécie, isto é, as espécies do mesmo género, que se encontram mais expostas à destruição. E assim, creio eu, que um certo número de espécies novas, derivadas de uma espécie única e constituindo assim um género novo, chega a suplantar um género antigo, pertencente à mesma família. Mas deve ter sucedido muitas vezes também que uma espécie nova pertencendo a um grupo tomasse o lugar de uma espécie pertencendo a um grupo diferente, e provocasse assim a sua extinção. Se muitas formas aliadas têm saído desta mesma forma, outras espécies conquistadoras anteriormente lhe deverão ter cedido o lugar, e serão então geralmente as formas vizinhas que têm mais a sofrer, em razão de alguma inferioridade hereditária comum a todo o grupo. Mas como as espécies obrigadas a ceder assim o seu lugar a outras mais aperfeiçoadas pertencem à mesma classe ou a classes distintas, poderá suceder que algumas delas possam ser muito tempo conservadas, após a sua adaptação a condições diferentes de existência, ou porque, ocupando um ponto isolado, escaparam a uma rigorosa concorrência. Assim, por exemplo, algumas espécies de Trigonia, grande género de moluscos das formações secundárias, têm sobretudo vivido e habitam ainda os mares australianos; e alguns membros do grupo considerável e quase extintos dos peixes ganóides encontram-se ainda nas nossas águas doces. Compreende-se, pois, a causa de a extinção completa de um grupo ser geralmente, como acabamos de ver, muito mais lenta do que a sua produção.

Quanto à súbita extinção de famílias ou de ordens inteiras, tais como o grupo dos trilobitas no fim da época paleozóica ou