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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
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aliadas nas mesmas regiões e o laço misterioso que, em diversas latitudes, na América meridional por exemplo, as liga entre si bem como às formas extintas que outrora viveram no mesmo continente, os habitantes das planícies e das montanhas, os das florestas, dos pântanos e dos desertos. Se se pensar na alta importância das relações mútuas de organismo para organismo, compreende-se fàcilmente como formas muito diferentes habitam muitas vezes duas regiões oferecendo quase as mesmas condições físicas; porque, o tempo desde que os imigrantes penetraram numa das regiões ou nas duas, a natureza das comunicações que têm facilitado a entrada de certas formas em maior ou menor número e excluiu certas outras, a concorrência que as formas novas tiveram de sustentar quer entre si, quer com as formas indígenas, a aptidão, enfim, dos imigrantes a variar mais ou menos prontamente, são outras tantas causas que deviam ter produzido nas duas regiões, independentemente das condições físicas, condições de existência infinitamente diversas. A soma das criações orgânicas ou inorgânicas devia ter sido quase infinita, e devemos encontrar, e encontramos com efeito, nas diversas maiores províncias geográficas do globo, alguns grupos de seres muito modificados, outros que o são muito pouco, uns contêm um número considerável de indivíduos, outros um número muito restrito.

Estes mesmos princípios, como procurei demonstrar, permitem-nos explicar a causa de a maior parte dos habitantes das ilhas oceânicas ser, além de pouco numerosa, endémica ou privativa; a causa de, em razão da diferença dos meios de migração, um grupo de seres não encerrar mais que espécies particulares, enquanto que as espécies de um outro grupo pertencesse à mesma classe são comuns a muitas partes da terra. Torna-se fácil compreender como grupos inteiros de organismos, tais como os batráquios e os mamíferos terrestres, faltam nas ilhas oceânicas, enquanto que as mais afastadas e as mais isoladas possuem as suas espécies particulares de mamíferos aéreos ou morcegos; que deve existir uma relação entre a existência, nas ilhas, de mamíferos num estado mais ou menos modificado e a profundidade do mar que separa estas ilhas da terra firme; que todos os habitantes de um arquipélago, se bem que especificamente distintos em cada pequena ilha, devem ser estreitamente aliados uns aos outros, e aproximar-se igualmente, mas de uma maneira menos estreita, daqueles que ocupam o continente ou o lugar de onde os imigrantes possam ter tirado a sua origem. Enfim, explicámos porque, se existem em duas regiões, por distantes que sejam uma da outra, espécies estreitamente