VARIAÇÃO NO ESTADO DOMÉSTICO
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cruzamento de um pequeno número de espécies primitivas. Mas apenas se obtêm, pelo cruzamento, formas intermediárias entre os pais; ora, se queremos explicar assim a existência das nossas diferentes raças domésticas, necessário se torna admitir a existência anterior das formas mais extremas, tais como o Galgo italiano, o Rafeiro, o Buldogue, etc., no estado selvagem. De resto, tem-se exagerado muito a possibilidade de formar raças distintas pelo cruzamento. Está provado que pode modificar-se uma raça pelos cruzamentos acidentais, admitindo, todavia, que se escolhem cuidadosamente os indivíduos que representam o tipo desejado; mas seria muito difícil obter uma raça intermédia entre duas raças completamente distintas. Sir J. Sebrigth tentou numerosas experiências com este fim, mas não pôde obter resultado algum. Os produtos do primeiro cruzamento entre duas raças puras são bastante uniformes, algumas vezes mesmo perfeitamente idênticos, como tenho constatado nos pombos. Nada parece, pois, mais simples; quando, porém, se cruzam estes mestiços entre si durante muitas gerações, não mais se obtêm dois produtos semelhantes e as dificuldades de operação tornam-se manifestas.

RAÇAS DO POMBO DOMÉSTICO, SUAS DIFERENÇAS E SUA ORIGEM

Persuadido que vale sempre mais estudar um grupo especial, decidi-me, após madura reflexão, pelos pombos domésticos. Tenho tratado todas as raças que pude obter por compra ou por outra maneira; além disso, têm-me sido enviadas peles provenientes de quase todas as partes do mundo; estou principalmente agradecido por estas remessas ao honorário W. Elliot, que me fez aperceber de especímenes da Índia, e ao honorário C. Murray, que me expediu exemplares da Pérsia. Em todas as línguas se têm publicado tratados sobre pombos; algumas destas obras são muito importantes, pois que ascendem à mais remota antiguidade. Associei-me à muitos criadores importantes e faço parte dos dois «Pigeons-clubs» de Londres. A diversidade das raças de pombos é verdadeiramente admirável. Se se compara o Correio inglês com o Cambalhota de face curta, fica-se impressionado pela enorme diferença do bico, condizendo com diferenças correspondentes no crânio. O Correio, e mais particularmente o macho, apresenta um desenvolvimento pronunciado da membrana carunculosa da cabeça, acompanhado de grande alongamento das pálpebras, de largos orifícios nasais e