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ORIGEM DAS ESPÉCIES

roso. Demais o Torcaz comum, que tem os mesmos hábitos que as raças domésticas, não foi exterminado nem nas pequenas ilhas que cercam a Grã-Bretanha, nem nas costas do Mediterrânco. Seria pois fazer uma falsa suposição admitir a extinção de um tão grande número de espécies tendo os mesmos costumes que o Torcaz. Além disso, as raças domésticas, de que temos falado mais acima, foram transportadas para todas as partes do mundo; algumas, por conseguinte, devem ter sido levadas ao seu país de origem; nenhuma, contudo, voltou ao estado selvagem, ainda que o pombo comum, que não é outro senão o Torcaz sob forma muito pouco modificada, se tenha tornado selvagem em muitos lugares. Enfim, a experiência prova-nos bem o quanto é difícil obrigar um animal selvagem a reproduzir-se regularmente em cativeiro; todavia, admitindo a origem múltipla dos nossos pombos, necessário se torna também admitir que sete ou oito espécies pelo menos foram aprisionadas pelo homem num estado semi-selvagem para as tornar perfeitamente fecundas no estado de cativas.

Há um outro argumento que me parece ter um grande valor e que pode aplicar-se a muitos outros casos: é que as raças de que temos falado, posto que semelhando-se de uma maneira geral ao Torcaz selvagem pela constituição, hábitos, voz, cor e pela maior parte da sua conformação, diferenciam-se dele, todavia, por muitos outros pontos. Debalde se procuraria, em toda a grande família das Columbídeas, um bico semelhante ao do Correio inglês, ao do Cambalhota de face curta ou ao do Barbado; penas erriçadas análogas às do Cabeleira; papo comparado ao do Pombo de papo; penas caudais comparáveis às do pombo-pavão. Seria necessário, pois, admitir, não só que homens semi-selvagens aprisionaram completamente muitas espécies, como ainda, por acaso ou intencionalmente, escolheram as espécies mais extraordinárias e mais anormais; era necessário admitir ainda que todas estas espécies se extinguiram em seguida ou ficaram desconhecidas. Um tal concurso de circunstâncias é improvável no mais alto grau.

Merecem menção alguns factos relativos à cor dos pombos. O Torcaz é azul-ardósia com os flancos brancos; na subespécie índica, a Columbia intermedia de Strickland, os flancos são azulados; a cauda apresenta uma orla carregada terminal e as penas dos lados são exteriormente limitadas de branco na base; as asas têm duas barras negras. Em algumas raças semidomésticas, bem como em algumas absolutamente selvagens, as asas, além das duas orlas negras, são pontilhadas. de negro. Estes diversos sinais não se encontram reunidos em qualquer outra