VARIAÇÃO NO ESTADO SELVAGEM
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meiras impressões. A medida que as suas observações tomam um desenvolvimento mais considerável, as dificuldades aumentam, porque se encontra em presença de um grande número de formas muito próximas. Supondo que as suas observações tomam um carácter geral, acabará por poder decidir-se; mas não conseguirá este desiderato, a não ser que admita variações numerosas, e não faltarão naturalistas que contestem as suas conclusões. Enfim, as dificuldades surgirão em abundância, e será forçado a apoiar-se quase inteiramente sobre a analogia, quando chegar a estudar as formas vizinhas provindo hoje de países separados, porque não poderá encontrar os anéis intermediários que reatam estas formas duvidosas,

Até ao presente não se tem podido traçar uma linha de demarcação entre as espécies e as subespécies, isto é, entre as formas que, na opinião de alguns naturalistas, podiam ser quase consideradas como espécies sem o merecerem inteiramente. Não se tem podido, além disso, traçar uma linha de demarcação entre as subespécies e as variedades bem características, ou entre as variedades apenas sensíveis e as diferenças individuais. Estas diferenças fundem-se uma na outra por graus insensíveis constituindo uma verdadeira série; ora, a noção de série implica a ideia de uma transfomação real.

Ainda que as diferenças individuais ofereçam pouco interesse aos naturalistas classificadores, considero que têm a mais alta importância, visto que constituem os primeiros degraus para estas variedades tão ligeiras que se julga indicá-las apenas nas obras sobre a história natural. Creio que as variedades um pouco mais pronunciadas, um pouco mais persistentes, conduzem a outras variedades mais pronunciadas e mais persistentes ainda; estas últimas conduzem à subespécie, e por fim à espécie. A passagem de um grau de diferença a outro pode, em muitos casos, resultar simplesmente da natureza do organismo e das diferentes condições físicas a que tem estado muito tempo exposto. Mas a passagem de um grau de diferença para um outro, quando se trata de caracteres de adaptação mais importantes, pode atribuir-se seguramente à acção acumuladora da selecção natural, que eu explicarei mais tarde, e aos efeitos de aumento de uso e não uso das partes. Pode dizer-se então que uma variedade grandemente acentuada é o começo de uma espécie. Esta asserção tem fundamento ou não? É o que se poderá julgar depois de se terem avaliado com cuidado os argumentos e os diferentes factos que fazem o objecto deste volume.

Seria necessário supor, além disso, que todas as variedades ou espécies em vias de formação atingem a classificação de