LUTA PELA EXISTÊNCIA
63

É necessário, por isso, quando se contempla a natureza, estar-se compenetrado das observações que acabamos de fazer; é necessário não esquecer que cada ser organizado se esforça sempre por multiplicar-se; que cada um deles sustenta uma luta durante um certo período da sua existência; que os novos e os velhos estão inevitàvelmente expostos a uma destruição incessante, quer durante cada geração, quer em certos intervalos. Quando um desses obstáculos acaba por afrouxar, ou a destruição pára por pouco que seja, o número dos indivíduos de uma espécie sobe ràpidamente a uma conta considerável.

DA NATUREZA DOS OBSTÁCULOS A MULTIPLICAÇÃO

As causas que obstam à tendência natural à multiplicação de cada espécie são muito obscuras. Consideremos uma espécie muito vigorosa; quanto maior é o número dos indivíduos que a compõem, tanto mais este número tende a aumentar. Não poderíamos mesmo, num dado caso, determinar exactamente quais são os obstáculos que actuam. Isto nada deve surpreender, quando se reflicta que a nossa ignorância sobre este ponto é absoluta, relativamente mesmo à espécie humana, posto que o homem seja melhor conhecido que qualquer outro animal. Muitos autores têm discutido este assunto com grande elevação; espero mesmo estudá-lo largamente numa obra futura, principalmente com respeito a animais que têm voltado ao estado selvagem na América meridional. Limitar-me-ei aqui a algumas notas, para recordar certos pontos principais ao espírito do leitor. Os ovos ou os animais muito novos parecem ordinàriamente sofrer mais, mas nem sempre é assim; nas plantas, faz-se uma grande destruição de sementes; mas, pelas minhas observações, parece que são as semeadas que mais sofrem, porque germinam num terreno já atravancado por outras plantas. Diferentes inimigos destroem também uma grande quantidade de renovos; observei, por exemplo, alguns renovos das nossas ervas indígenas, semeadas num canteiro tendo 3 pés de comprimento por 2 de largo, bem cultivado e bem desembaraçado de plantas estranhas, e onde, por conseguinte, não podiam sofrer a vizinhança dessas plantas: em trezentas e cinquenta e sete plantas, duzentas e noventa e cinco foram destruídas, principalmente pelas lesmas e pelos insectos. Se se deixa rebentar a relva que tem sido ceifada por muito tempo, ou, o que quer dizer o mesmo, que os quadrúpedes têm o hábito de pastar, as plantas mais vigorosas matam gradualmente as que são mais fracas, ainda