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ORIGEM DAS ESPÉCIES

velmente a vegetação, como eu mesmo pude observar em muitas partes da América meridional. A vegetação, pelo seu lado, teria uma grande influência sobre os insectos, e o aumento destes provocaria, como acabamos de ver do exemplo de Staffordshire, o desenvolvimento de aves insectívoras e assim sucessivamente, em círculos cada vez mais complexos. Todavia, em a natureza, as relações não são sempre tão simples como isto. A luta deve sempre reproduzir-se com sucessos diferentes; contudo, no decorrer dos séculos, as forças equilibram-se tão exactamente, que a face da natureza fica uniforme durante imensos períodos, posto que seguramente a causa mais insignificante baste para assegurar a vitória a tal ou tal ser organizado. Não obstante, a nossa ignorância é tão profunda e a nossa vaidade tão grande, que nos admiramos quando conhecemos a extinção de um ser organizado; como não compreendemos a causa desta extinção, sabemos apenas invocar cataclismos, que vieram entristecer o mundo, e inventar leis sobre a duração das formas vivas!

Ainda um outro exemplo para melhor fazer compreender que relações complexas ligam entre si as plantas e os animais muito afastados uns dos outros na escala da natureza. Terei mais tarde ocasião de demonstrar que os insectos, no meu jardim, nunca visitam a Lubelia fulgens, planta exótica, e por consequência, em razão da sua conformação particular, esta planta nunca produziu sementes. É necessário absolutamente, para as fecundar, que os insectos visitem quase todas as nossas orquídeas, porque são eles que transportam o pólen de uma flor para outra. Depois de numerosas experiências, reconheci que o zângão é quase indispensável para a fecundação do amor-perfeito (Viola tricolor), porque os outros insectos do género abelha não visitam esta flor. Reconheci igualmente que as visitas das abelhas são necessárias para a fecundação de algumas espécies de trevo; vinte pés de trevo de Holanda (Trifolium repens), por exemplo, produziram duas mil e duzentas e noventa sementes, enquanto que outros vinte pés, de que as abelhas não puderam aproximar-se, não produziram uma única. O zângão só visita o trevo vermelho, porque as outras abelhas não podem atingir o néctar. Afirma-se que as borboletas podem fecundar esta planta; mas duvido muito, porque o peso do corpo não é suficiente para deprimir as pétalas alares. Podemos pois considerar como muito provável que, se o género zângão chegasse a desaparecer, ou se tornasse muito raro na Inglaterra, o amor-perfeito e o trevo vermelho tornar-se-iam também muito raros ou desapareceriam completamente. O número de zângãos, num distrito qualquer, depende, em grande parte, do número de arganazes que