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—É muito injusto com as suas patricias.

—Oh! não as lisongeie.

—N'isso interesso eu tambem, bem vê.

—Poupe-lhes a humilhação de comparar-se com ellas, Bertha. Creia que, indo educar-se a Lisboa, foi para onde a chamavam os instinctos de sua natureza superior. Seu pae, julgando tomar uma resolução espontanea, ao mandal-a para a capital, obedeceu, sem o saber, a uma força occulta que assim o exigia. O seu espirito estava voando para as cidades, onde sómente encontrava ambiente apropriado.

—Engana-se; vê? Achava-me desterrada alli até, e, desde que voltei, sinto um bem-estar, que me prova que é esta a minha verdadeira patria, que estes são os ares, em que respiro á vontade.

—Esse bem-estar não tardará que se transforme em fastio.

—Não, não, não creio.

—Eu é que não creio que possa dar-se bem aqui, privada de satisfazer as aspirações naturaes a um espirito como o seu.

—Mas, ó meu Deus, que qualidade de espirito me suppõe então? Que aspirações são essas que diz?

—Ora para que finge ignoral-as? Acaso, diga, a satisfaria a vida da immensa maioria das tres ou quatro mil pessoas d'este concelho?

—E espero que ha de satisfazer-me.

—E que ha de fazer da sua imaginação? Sim, que ha de fazer d'isto que se sente na nossa idade, quando se não nasceu Manoel do Portello, ou Maria da Azenha?

—Perdão, será por eu ter nascido simplesmente Bertha da Povoa, que não me incommódo com isso.

—Não me entendeu, Bertha. Não havia nas minhas palavras a menor baforada aristocratica; d'essa ridicula mania não padeço eu, graças a Deus. D'entre os preclaros membros das casas fidalgas d'estes arredores, posso assegurar que, apesar dos sete ou oito nomes, com que cada um se assigna, nenhum experimenta isto que eu dizia. Mas Bertha…

—Olhe, snr. Mauricio. Fallo-lhe com franqueza. Não