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—e a boa ti'Anna do Védor? que tanto lhes queria, a si e ao snr. Jorge? Sei que vive; mas ainda é o que era d'antes? alegre, robusta, franca?…

—Quem? a ti'Anna?!—acudiu Thomé—verás, Bertha, que ainda te parece mais nova. Aquillo é que é mulher de casa! É um gosto vêl-a, no meio dos campos, de mangas arregaçadas e chapéo de palha na cabeça e de enxada ou mangoal na mão. O seu trabalho vale por o de dois homens. Pois n'uma eira?

N'este ponto Thomé deu um assobio, que exprimia a grande conta em que tinha o trabalho de Anna do Védor.

—O filho está regedor.

—É uma boa e generosa alma—tornou Mauricio, com uma expressão de sincera sympatia.—E quer-nos como a filhos.

—Isso quer—confirmou Thomé—quando falla nos seus meninos que trouxe ao collo e que sustentou com o seu leite, luzem-lhe os olhos.

—E tambem me ralha com uma severidade!

—Vamos, que ella bem sabe porque o faz. Então pensa que não lhe merece ainda mais?

—Não digo que não. Só me queixo de certa parcialidade que manifesta por Jorge. —E como vae o snr. Jorge?—perguntou Bertha.

—Muito bem. Fez-se caixeiro. Não sabe? Atirou-se aos livros e á papelada da casa, como um homem, e já não ha de tirar-lhe palavra que não seja de contas e de negocios.

—E é um homem ás direitas—disse Thomé, com gravidade.

—Pois sim, mas podia distrahir-se mais um bocado. Mas então? Deu-lhe Deus aquelle genio frio como gêlo!… —Eu não sei lá se é frio ou se é quente. O que sei é que é um rapaz de juizo e que, se continuar assim, ha de remediar muita doudice, antiga e moderna, que ha lá por casa.

—A moderna é commigo, aposto. Não tem razão. Eu tambem estou decidido a trabalhar. Se ainda aqui me vê, a culpa não é minha.