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—Então vae partir?—perguntou Bertha.

—Que remedio, Bertha? Cumpro uma dura lei. Deixo o coração por aqui, acredite; por esses valles, por essas devezas, por essas ribeiras… Mas que lhe hei de fazer?

—E para onde vae?

—Eu sei? Para onde me levar o destino. Mas o Thomé ri-se! Seu pae ri-se, Bertha!

—Rio-me da lamuria. Quem o ouvir, ha de acreditar que elle parte devéras e que lhe custa immenso a partida.

—E então?

—A mim já me custa a crêr que o snr. Mauricio nos deixe; mas, a isso succeder, não ha de ser a chorar que arranjará as malas.

—É injusto com o meu coração. É o que se segue.

—Não, senhor; não sou; mas sei o que é ter vinte annos, e sei o que é essa cabeça. E agora o nosso caminho é por aqui. O snr. Mauricio, se quizer dar-nos o prazer da sua companhia, tem no fim d'esta rua uma casa para o receber, senão…

—Agradecido, Thomé. Outro dia será. Não quero perturbar com a minha presença as alegrias de familia. Adeus, Bertha, continuaremos a ser os amigos que eramos d'antes, não é verdade?

—Porque não, Mauricio… snr. Mauricio?

E Bertha, com um sorriso de generosa confiança, estendeu a pequena e delicada mão á que Mauricio lhe offerecia.

Este, com uma galanteria, que o seculo actual traz quasi esquecida, levou-a cavalheirosamente aos labios, movimento que augmentou as côres nas faces de Bertha; depois, cortejando-a com perfeita elegancia, partiu a galope.

Bertha seguiu-o por muito tempo com os olhos e ficou pensativa, depois que o perdeu de vista.

Thomé, que notára tudo isto, não deixou passar muito tempo que não admoestasse a filha.

—Olha cá, Bertha, tem cautela com o teu coração, que não vá elle por ahi deixar-se prender. Eu não sei como é costume viver-se hoje lá na cidade, mas aqui sei