OS MAIAS
357

agrestemente o jardim. Ali, no gabinete de toilette, errava no ar tepido um vago aroma de sabonete e de bom charuto. Sobre duas commodas de pau preto, marchetadas a marfim, duas serpentinas de velho bronze erguiam os seus molhos de vellas accezas, pondo largos reflexos doces sobre a seda castanha das paredes. Ao lado do alto espelho-psyché alastrava-se, em cima d’uma poltrona, o dominó de já setim negro com um grande laço azul-claro.

Baptista, com a casaca na mão, esperava que Carlos acabasse a chavena de chá preto que elle estava bebendo aos golos, de pé, em mangas de camisa, e de gravata branca.

De repente, o timbre electrico da porta particular reteniu, apressado e violento.

— ­Talvez outra surpreza, murmurou Carlos, hoje é o dia das surprezas...

Baptista sorriu, ia pousar a casaca para abrir — ­quando em baixo vibrou outro repique brutal, d’uma impaciencia phrenetica.

Então Carlos, curioso, sahiu á ante-camara: e ahi, á meia luz das lampadas Carcel, ainda quebrantada pelo tom dos velludos côr de cereja, viu, ao abrir-se a porta por onde entrou um sopro aspero da noite, apparecer vivamente uma fórma esguia e vermelha, com um confuso tinir de ferro. Depois, pela escada acima, duas pennas negras de gallo ondearam, um manto escarlate esvoaçou — ­e o Ega estava diante d’elle, caracterisado, vestido de Mephistopheles!

Carlos apenas poude dizer bravo — ­o aspecto do