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OS MAIAS

Calou-se; mas os seus bellos olhos ficaram um instante pousados nos de Carlos, como esquecidos, e deixando fugir irresistivelmente um pouco do segredo que ella retinha no seu coração.

Elle murmurou:

— Por mais que eu fizesse, ficaria bem pago de tudo se me olhasse outra vez assim.

Uma onda de sangue cobriu toda a face de Maria Eduarda.

— Não diga isso...

— E que necessidade ha que eu lh’o diga? Pois não sabe perfeitamente que a adoro, que a adoro, que a adoro!

Ella ergueu-se bruscamente, elle tambem: — e assim ficaram, mudos, cheios d’anciedade, trespassando-se com os olhos, como se se tivesse feito uma grande alteração no Universo, e elles esperassem, suspensos, o desfecho supremo dos seus destinos... E foi ella que fallou, a custo, quasi desfallecida, estendendo para elle, como se o quizesse afastar, as mãos inquietas e tremulas:

— Escute! Sabe bem o que eu sinto por si, mas escute... Antes que seja tarde ha uma coisa que lhe quero dizer...

Carlos via-a assim tremer, via-a toda pallida... E nem a escutára, nem a comprehendera. Sentia apenas, n’um deslumbramento, que o amor comprimido até ahi no seu coração irrompera por fim, triumphante, e embatendo no coração d’ella, através do apparente marmore do seu peito, fizera de lá