OS MAIAS
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resaltar uma chamma igual... Só via que ella tremia, só via que ella o amava... E, com a gravidade forte d’um acto de posse, tomou-lhe lentamente as mãos, que ella lhe abandonou, submissa de repente, já sem força, e vencida. E beijava-lh’as ora uma ora outra, e as palmas, e os dedos, devagar, murmurando apenas:

— Meu amor! meu amor! meu amor!

Maria Eduarda cahira pouco a pouco sobre a cadeira; e, sem retirar as mãos, erguendo para elle os olhos cheios de paixão, ennevoados de lagrimas, balbuciou ainda, debilmente, n’uma derradeira supplicação:

— Ha uma coisa que eu lhe queria dizer!...

Carlos estava já ajoelhado aos seus pés.

— Eu sei o que é! exclamou, ardentemente, junto do rosto d’ella, sem a deixar fallar mais, certo de que adivinhára o seu pensamento. Escusa de dizer, sei perfeitamente. É o que eu tenho pensado tantas vezes! É que um amor como o nosso não póde viver nas condições em que vivem outros amores vulgares... É que desde que eu lhe digo que a amo, é como se lhe pedisse para ser minha esposa diante de Deus...

Ella recuava o rosto, olhando-o angustiosamente, e como se não comprehendesse. E Carlos continuava mais baixo, com as mãos d’ella presas, penetrando-a toda da emoção que o fazia tremer:

— Sempre que pensava em si, era já com esta esperança d’uma existencia toda nossa, longe