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OS MAIAS

Carlos radiante. Era a unica solução digna, séria... E nada os podia embaraçar; amavam-se, confiavam absolutamente um no outro; elle era rico, o mundo era largo...

E ella repetia, mais firme agora, já decidida, e como se aquella resolução a cada momento se cravasse mais fundo na sua alma, penetrando-a toda e para sempre:

— Pois seja assim! É melhor assim!

Um momento ficaram calados, olhando-se arrebatadamente.

— Dize-me ao menos que és feliz, murmurou Carlos.

Ella lançou-lhe os braços ao pescoço: e os seus labios uniram-se n’um beijo profundo, infinito, quasi immaterial pelo seu extasi. Depois Maria Eduarda descerrou lentamente as palpebras, e disse-lhe, muito baixo:

— Adeus, deixa-me só, vai.

Elle tomou o chapéo, e sahiu.

No dia seguinte Craft, que havia uma semana não ia ao Ramalhete, passeava na quinta antes d’almoço — quando appareceu Carlos. Apertaram as mãos, fallaram um instante do Ega, da chegada dos Cohens. Depois, Carlos, fazendo um gesto largo que abrangia a quinta, a casa, todo o horisonte, perguntou rindo: