OS MAIAS
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destino. Imaginára uma brazileira polida por Paris, bonita e futil, que tendo o marido longe, no Brazil, e um formoso rapaz ao lado, no sofá, obedecia simplesmente e alegremente á disposição das coisas: e sahia-lhe uma creatura cheia de caracter, cheia de paixão, capaz de sacrificios, capaz de heroismos. Como sempre, diante d’estas coisas patheticas, murchava-lhe a veia, faltava-lhe a phrase; e quando Carlos se calou, o bom Ega teve esta pergunta chôcha:

— Então estás decidido a safar-te com ella?

— A safar-me, não; a ir viver com ella longe d’aqui, decididissimo!

Ega ficou um momento a olhar para Carlos como para um phenomeno prodigioso, e murmurou:

— É d’arromba!

Mas que outra coisa podiam elles fazer? D’ahi a tres mezes talvez, Castro Gomes chegava do Brazil. Ora nem Carlos, nem ella, aceitariam nunca uma d’essas situações atrozes e reles em que a mulher é do amante e do marido, a horas diversas... Só lhes restava uma solução digna, decente, séria — fugir.

Ega, depois de um silencio, disse pensativamente:

— Para o marido é que não é talvez divertido perder assim, de uma vez, a mulher, a filha, e a cadellinha...

Carlos ergueu-se, deu alguns passos pelo quarto.