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OS MAIAS

aceno-lhe de longe amigavelmente com dois dedos...

— Devia ser antes com a bengala. O Damaso anda ahi, por toda a parte, fallando de ti e d’essa senhora, tua amiga... A ti chama-te pulha, a ella peor ainda. É a velha historia; diz que te apresentou, que te metteste de dentro, e como para essa senhora é uma questão de dinheiro, e tu és o mais rico, ella lhe passou o pé... Vês d’ahi a infamiasinha. E isto tagarellado pelo Gremio, pela Casa Havaneza, com detalhes torpes, envolvendo sempre a questão de dinheiro. Tudo isto é atroz. Trata de lhe pôr cobro.

Carlos, muito pallido, disse simplesmente:

— Ha de se fazer justiça.

Desceu, indignado. Aquella torpe insinuação sobre «dinheiro» parecia-lhe poder ser castigada só com a morte. E um instante mesmo, com a mão no fecho da portinhola do coupé, pensou em correr a casa do Damaso, tomar um desforço brutal.

Mas eram quasi onze horas, e elle tinha d’ir aos Olivaes. No dia seguinte, sabbado, dia bello entre todos e solemne para o seu coração, Maria Eduarda devia emfim visitar a quinta do Craft: e ficára combinado, na vespera, que passariam lá as horas do calor, até tarde, sós, n’aquella casa solitaria e sem criados, escondida entre as arvores. Elle pedira-lh’o assim, hesitante e a tremer: ella consentira logo, sorrindo e naturalmente. N’essa manhã elle mandára aos Olivaes dois