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OS MAIAS

Foi breve, e foi cruel: sacudiu a mão do Gouvarinho, saudou de leve o Cohen: e sem baixar a voz, disse ao Damaso friamente:

— Ouve lá. Se continúas a fallar de mim e de pessoas das minhas relações, do modo como tens fallado, e que não me convém, arranco-te as orelhas.

O conde acudiu, mettendo-se entre elles:

— Maia, por quem é! Aqui no Chiado...

— Não é nada, Gouvarinho, disse Carlos detendo-o, muito sério e muito sereno. É apenas um aviso a este imbecil.

— Eu não quero questões, eu não quero questões!... balbuciou o Damaso, livido, enfiando para dentro d’uma tabacaria.

E Carlos voltou, com socego, para junto dos seus amigos, depois de ter saudado o Cohen e sacudir a mão ao Gouvarinho.

Vinha apenas um pouco pallido: mais perturbado estava o Ega, que julgára vêr de novo, n’um olhar do Cohen, uma provocação intoleravel. Só o Alencar não reparára em nada: continuava a discursar sobre coisas litterarias, explicando ao Ega as concessões que se podiam fazer ao naturalismo...

— Fiquei aqui a dizer ao Ega... É evidente que quando se trata de paizagem é necessario copiar a realidade... Não se pode descrever um castanheiro a priori, como se descreveria uma alma... E lá isso faço eu... Ahi está esse soneto de Cintra que eu te dediquei, Carlos. É realista, está claro que