OS MAIAS
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Carlos se s. exc.ª não se lembrava já do Domingos. Quando elle se voltou, risonho, descendo precipitadamente os canhões das mangas, Carlos reconheceu-o pelas suissas ruivas. Era com effeito o Domingos, escudeiro excellente, que no começo do inverno estivera no Ramalhete, e se despedira por birras patrioticas, birras ciumentas, com o cozinheiro francez.

— Não o tinha visto bem, Domingos, disse Carlos. O patamar é um pouco escuro... Lembro-me perfeitamente... E então vossê agora aqui, hein? E está contente?

— Eu parece-me que estou muito contente, meu senhor... O snr. Cruges tambem mora cá por cima...

— Bem sei, bem sei...

— Tenha v. exc.ª a paciencia de esperar um instantinho que eu vou dar parte á snr.ª D. Maria Eduarda...

Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome d’ella; e pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua belleza serena. Maria Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similitude nos seus nomes. Quem sabe se não presagiava a concordancia dos seus destinos!

Domingos, no entanto, já á porta da sala, com a mão no reposteiro, parou ainda, para dizer n’um tom de confidencia e sorrindo:

— É a governante ingleza que está doente...

— Ah! é a governante?