OS MAIAS
123

á sala de jantar, a verificar se, na mesa posta para o lunch, se conservavam ainda viçosas as flôres que lá deixára na vespera. Depois voltou ao coupé a tirar o caixote de gelo, que trouxera de Lisboa, embrulhado em flanella, entre serradura. Na estrada, silenciosa por ora, ia só passando uma saloia montada na sua egua.

Mas apenas accommodára o gelo — sentiu fóra o ruido lento da carruagem. Veio para o gabinete forrado de cretones, que abria sobre o corredor; e ficou alli, espreitando da porta, mas escondido, por causa do cocheiro da Companhia. D’ahi a um instante viu-a emfim chegar, pela rua de acacias, alta e bella, vestida de preto, e com um meio-véo espesso como uma mascara. Os seus pésinhos subiram os tres degraus de pedra. Elle sentiu a sua voz inquieta perguntar de leve:

Êtes-vous là?

Appareceu — e ficaram um instante, á porta do gabinete, apertando sofregamente as mãos, sem fallar, commovidos, deslumbrados.

— Que linda manhã! disse ella por fim, rindo e toda vermelha.

— Linda manhã, linda! repetia Carlos, contemplando-a, enlevado.

Maria Eduarda resvalára sobre uma cadeira, junto da porta, n’um cansaço delicioso, deixando calmar o alvoroço do seu coração.

— É muito confortavel, é encantador tudo isto, dizia ella olhando lentamente em redor os cretones