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OS MAIAS

refundir toda a casa; e ella não recusava nada, para conforto mais perfeito dos seus.

Desceram á sala de jantar. E ahi, diante da famosa chaminé de carvalho lavrado, flanqueada á maneira de cariatides pelas duas negras figuras de Nubios, com olhos rutilantes de crystal, Maria Eduarda começou a achar o gosto do Craft excentrico, quasi exotico... Tambem Carlos não lhe dizia que Craft tivesse o gosto correcto d’um atheniense. Era um saxonio batido d’um raio de sol meridional: mas havia muito talento na sua excentricidade...

— Oh, a vista é que é deliciosa! exclamou ella chegando-se á janella.

Junto do peitoril crescia um pé de margaridas, e ao lado outro de baunilha que perfumava o ar. Adiante estendia-se um tapete de relva, mal aparada, um pouco amarellada já pelo calor de julho; e entre duas grandes arvores que lhe faziam sombra, havia alli, para os vagares da sésta, um largo banco de cortiça. Um renque de arbustos cerrados parecia fechar a quinta d’aquelle lado como uma sebe. Depois a collina descia, com outras quintarolas, casas que se não viam, e uma chaminé de fabrica; e lá no fundo o rio rebrilhava, vidrado de azul, mudo e cheio de sol, até ás montanhas d’além-Tejo, azuladas tambem na faiscação clara do céo de verão.

— Isto é encantador! repetia ella.

— É um paraiso! Pois não lhe dizia eu? É necessario