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OS MAIAS

— Sim, meu senhor, tem uma febresita desde hontem, peso no peito...

— Ah!...

O Domingos deu outro movimento lento ao reposteiro, sem se apressar, contemplando Carlos com admiração:

— E o avôsinho de v. exc.ª passa bem?

— Obrigado, Domingos, passa bem.

— Aquillo é que é um grande senhor!... Não ha, não ha outro assim em Lisboa!

— Obrigado, Domingos, obrigado...

Quando elle finalmente sahiu, Carlos, tirando as luvas, deu uma volta curiosa e lenta pela sala. O soalho fôra esteirado de novo. Ao pé da porta havia um piano antigo de cauda, coberto com um pano alvadio; sobre uma estante ao lado, cheia de partituras, de musicas, de jornaes illustrados, pousava um vaso do Japão onde murchavam tres bellos lirios brancos; todas as cadeiras eram forradas de reps vermelho; e aos pés do sofá estirava-se uma velha pelle de tigre. Como no Hotel Central, esta intallação summaria de casa alugada recebera retoques de conforto e de gosto: cortinas novas de cretone, combinando com o papel azul da parede, tinham substituido as classicas bambinellas de cassa: um pequeno contador arabe, que Carlos se lembrava de ter visto havia dias no tio Abrahão, viera encher um lado mais desguarnecido da parede: o tapete de pellucia d’uma mesa oval, collocada ao centro, desapparecia sob