OS MAIAS
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lindas encadernações de livros, albuns, duas taças japonezas de bronze, um cesto para flôres de porcelana de Dresde, objectos delicados d’arte que não pertenciam decerto á mãi Cruges. E parecia errar alli, acariciando a ordem das coisas e marcando-as com um encanto particular, aquelle indefinido perfume que Carlos já sentira nos quartos do Hotel Central, e em que dominava o jasmim.

Mas o que attrahiu Carlos foi um bonito biombo de linho crú, com ramalhetes bordados, desdobrado ao pé da janella, fazendo um recanto mais resguardado e mais intimo. Havia lá uma cadeirinha baixa de setim escarlate, uma grande almofada para os pés, uma mesa de costura com todo um trabalho de mulher interrompido, numeros de jornaes de modas, um bordado enrolado, mólhos de lã de côres transbordando de um açafate. E, confortavelmente enroscada no macio da cadeira, achava-se ahi, n’esse momento, a famosa cadellinha escosseza, que tantas vezes passára nos sonhos de Carlos, trotando ligeiramente atraz de uma radiante figura pelo Aterro fóra, ou aninhada e adormecida n’um doce regaço...

— Bonjour, Mademoiselle, disse-lhe elle, baixinho, querendo captar-lhe as sympathias.

A cadellinha erguera-se logo bruscamente na cadeira, d’orelhas fitas, dardejando para aquelle estranho, por entre as repas esguedelhadas, dois bellos olhos de azeviche, desconfiados, d’uma penetração