146
OS MAIAS

— Pois bem! Vai, deixa-me! Vai para a outra, para a brazileira! Eu conheço-a, é uma aventureira que tem o marido arruinado, e precisa quem lhe pague as modistas!...

Elle voltou-se, com os punhos fechados, como para a espancar; e na tipoia escura, onde já havia um vago cheiro de verbena, os olhos d’ambos, sem se vêrem, dardejavam o odio que os enchia... Carlos bateu raivosamente no vidro. A tipoia não parou. E a Gouvarinho, do outro lado, furiosa, magoando os dedos, procurava descer a vidraça.

— É melhor que sáia! dizia ella suffocada. Tenho horror de me achar aqui, ao seu lado! Tenho horror! Cocheiro! cocheiro!

O calhambeque parou. Carlos pulou para fóra, fechou d’estalo a portinhola; e sem uma palavra, sem erguer o chapéo, virou costas, abalou a grandes passadas para o Ramalhete, tremulo ainda, cheio d’idéas de rancor, sob a paz da noite estrellada.