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OS MAIAS

deixado uma carta. E tinha dito: «Baptista, vou pastar.»

A carta, a lapis, n’uma larga folha d’almasso, dizia: «Assaltou-me de repente, amigo, juntamente com um horror á caliça de Lisboa, uma saudade infinita da natureza e do verde. A porção d’animalidade que ainda resta no meu sêr civilisado e recivilisado precisa urgentemente d’espolinhar-se na relva, beber no fio dos regatos, e dormir balançada n’um ramo de castanheiro. O solícito Baptista que me remetta ámanhã pelo omnibus a mala com que eu não quiz sobrecarregar a tipoia do Mulato. Eu demoro-me apenas tres ou quatro dias. O tempo de cavaquear um bocado com o Absoluto no alto dos Capuchos, e vêr o que estão fazendo os myosotis junto á meiga fonte dos Amores...»

— Pedante! rosnou Carlos, indignado com o abandono ingrato em que o deixava o Ega.

E atirando a carta:

— Baptista! O snr. Ega diz ahi que lhe mandem uma caixa de charutos, dos Imperiales. Manda-lhe antes dos Flôr de Cuba. Os Imperiales são um veneno. Esse animal nem fumar sabe!

Depois de jantar Carlos percorreu o Figaro, folheou um volume de Byron, bateu carambolas solitarias no bilhar, assobiou malagueñas no terrasso — e terminou por sahir, sem destino, para os lados do Aterro. O Ramalhete entristecia-o, assim mudo, apagado, todo aberto ao calor da