OS MAIAS
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devagar, ao passo d’um cavallo branco, que mordia o freio, levado á mão por um estribeiro; e pela arena o palhaço lambão e nescio acompanhava-a, com as mãos ambas apertadas ao coração, n’uma supplica babosa, rebolando languidamente os quadris dentro das vastas pantalonas, picadas de lantejoulas. Um dos escudeiros, de calça listrada d’ouro, empurrava-o, n’um arremedo de ciumes; e o palhaço cahia, estatelado, com um estoiro de nadegas, entre os risos das crianças e os rantantans da charanga. O calor suffocava; e as fumaraças de charuto, subindo sem cessar, faziam uma neva onde tremiam as chammas largas do gaz. Carlos, incommodado, abalou.

— Espera ao menos para vêr a mulher dos crocodilos! gritou ainda o Taveira.

— Não posso, cheira mal, morro!

Mas á porta, de repente, foi detido pelos braços abertos do Alencar, que chegava — com outro sujeito, velho e alto, de barbas brancas, todo vestido de luto. O poeta ficou pasmado de vêr alli o seu Carlos. Fazia-o no seu solar de Santa Olavia! Vira até nos papeis publicos...

— Não, disse Carlos, o avô é que foi hontem... Eu não me sinto ainda em disposição de ir communicar com a natureza...

Alencar riu, levemente afogueado, com um brilho de genebra no olho cavo. Ao lado, grave, o ancião de barbas calçava as suas luvas pretas.

— Pois eu é o contrario! exclamava o poeta.