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OS MAIAS

e pensava que nunca alli ousaria olhal-a tão francamente, com uma tão clara adoração, como quando a encontrava na rua.

— Que linda cadellinha v. exc.ª tem, minha senhora! disse elle, quando Maria Eduarda se tornou a sentar, e pondo já n’estas palavras simples, ditas a sorrir, um accento de ternura.

Ella sorriu tambem com um lindo sorriso, que lhe fazia uma covinha no queixo, dava uma doçura mais mimosa ás suas feições sérias. E alegremente, batendo as palmas, chamando para dentro do biombo:

Niniche! estão-te a fazer elogios, vem agradecer!

Niniche appareceu a bocejar. Carlos achava lindo este nome de Niniche. E era curioso, tinha tido tambem uma galguinha italiana que se chamava Niniche...

N’esse instante a criada entrou — a rapariga magra e sardenta, d’olhar petulante, que Carlos vira já no Hotel Central.

— Melanie vai-lhe ensinar o quarto de miss Sarah, disse Maria Eduarda. Eu não o acompanho, porque ella é tão timida, tem tanto escrupulo em incommodar, que diante de mim é capaz de negar tudo, dizer que não tem nada...

— Perfeitamente, perfeitamente, murmurava Carlos, sorrindo, n’um encanto de tudo.

E pareceu-lhe então que no olhar d’ella alguma