OS MAIAS
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que fôra lá acompanhar um irmão tisico... Era um homem muito distincto, viu a mamã, que era lindíssima, gostaram um do outro, et voilà...

Dissera isto sem erguer os olhos do prato, lentamente, cortando uma aza de frango.

— Mas então, exclamou Carlos, se teu pai era austriaco, meu amor, tu és tambem austriaca... És talvez uma d’essas viennenses que tu dizes que tem um tão grande encanto...

Sim, talvez, segundo essas coisas dos codigos, era austriaca. Mas nunca conhecera o pai, vivera sempre com a mamã, fallára sempre portuguez, considerava-se portugueza. Nunca estivera na Austria, nem sabia mesmo allemão...

— Não tiveste irmãos?

— Sim, tive, uma irmãsinha que morreu em pequena... Mas não me lembra. Tenho em Paris o retrato d’ella... Bem linda!

N’esse momento em baixo, na calçada, uma carruagem, a trote largo, estacou. Carlos, surprehendido, correu á janella com o guardanapo na mão.

— É o Ega! exclamou. É aquelle velhaco que chega de Cintra!

Maria erguera-se, inquieta. E um momento, de pé, ambos se olharam, hesitando... Mas o Ega era como um irmão de Carlos. Elle esperava só que o Ega recolhesse de Cintra para o levar á Toca. Melhor seria que o encontro se désse alli, natural, franco e simples...