OS MAIAS
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temos tempo!... Tu sabes que vou hoje para Santa Olavia?

Está claro que sabia, recebera a carta d’elle, e por isso viera... Mas não podia jantar ainda, assim coberto do pó da estrada, e com um jaquetão de bucolica...

— Dize que me guardem o caldo, Baptista! Olha, dize que me guardem tudo, que eu trago uma fome de pastor da Arcadia!...

O Baptista servira o café. E a carruagem da senhora, que os devia levar a Santa Apolonia, esperava já á porta com a maleta. Mas Ega agora queria conversar, affirmou que tinham tempo, tirou o relogio. Estava parado. E elle declarou logo que no campo se regulava pelo sol, como as flôres e como as aves...

— Fica agora em Lisboa? perguntou-lhe Maria Eduarda.

— Não, minha senhora, só o tempo de cumprir o meu dever de cidadão, subindo duas ou tres vezes o Chiado... Depois volto para a relva. Cintra começa a ser interessante para mim, agora que não está ninguem... Cintra, de verão, com burguezes, parece-me um idyllio com nodoas de sebo.

Mas Baptista offerecia a Carlos a chartreuse — dizendo que s. exc.ª não se devia demorar se não tencionava perder o comboio, de proposito. Maria ergueu-se logo para ir dentro pôr o chapéo. E os dois amigos, sós, ficaram um momento calados, emquanto Carlos accendia devagar o charuto.