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OS MAIAS

Carlos fôra-o encontrar muito alegre, muito forte — apesar de ter sido obrigado, por causa d’um toque de rheumatismo, a abandonar emfim o seu culto da agua fria. E esta macissa, resplandecente saude do velho fôra um allivio para o coração de Carlos: parecia-lhe assim mais facil, menos ingrata, a sua partida com Maria para Italia, em outubro. Além d’isso achára um truc, como elle dizia ao Ega, para realisar o supremo desejo da sua vida sem magoar o avô, sem lhe turbar a paz da velhice. Era um truc simples. Consistia em partir elle só para Madrid, no começo d’uma certa «viagem d’estudo», para que já preparára o avô em Santa Olavia. Maria ficava na Toca, durante um mez. Depois tomava o paquete para Bordeus: e era ahi que Carlos se reunia com ella, a começarem essa existencia de felicidade e romance que as flôres da Italia deviam perfumar... Na primavera elle voltava a Lisboa, deixando Maria installada no seu ninho: e então, pouco a pouco, ia revelando ao avô aquella ligação, a que o prendia a honra, e que o forçaria agora a viver regularmente longos mezes n’uma outra terra que se tornára a patria do seu coração. E que havia de dizer o avô? Aceitar esse romance, a que não veria os lados desagradaveis, esbatido assim pela distancia e pela nevoa da paixão. Seria para Affonso uma vaga e mal sabida coisa d’amor que se passava em Italia... Poderia lamental-a apenas por lhe levar pontualmente todos os annos o neto para