OS MAIAS
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longe; e cada anno se consolaria pensando na curta duração dos idyllios humanos. De resto Carlos contava com essa larga benevolencia que amollece as almas mais rigidas quando apenas alguns passos as separam do tumulo... Emfim o seu truc parecia-lhe bom. Ega, em resumo, approvou o truc.

Depois, mais alegremente, fallaram da installação d’esse amor. Carlos permanecia na sua idéa romantica — um cottage á beira d’um lago. Mas Ega não approvava o lago. Ter todos os dias diante dos olhos uma agua sempre mansa e sempre azul, parecia-lhe perigoso para a durabilidade da paixão. Na quietação continua d’uma paizagem igual, dois amantes solitarios, dizia elle, não sendo botanicos nem pescando á linha, vêem-se forçados a viver exclusivamente do desejo um do outro, e a tirar d’ahi todas as suas idéas, sensações, occupações, gracejos e silencios... E, que diabo, o mais forte sentimento não póde dar para tanto! Dois amantes, cuja unica profissão é amarem-se, deviam procurar uma cidade, uma vasta cidade, tumultuosa e creadora, onde o homem tenha durante o dia os clubs, o cavaco, os museus, as idéas, o sorriso d’outras mulheres — e a mulher tenha as ruas, as compras, os theatros, a attenção d’outros homens; de sorte que á noite, quando se reunam, não tendo passado o infindavel dia a observarem-se um no outro e a si proprios, trazendo cada um a vibração da vida forte que atravessaram — achem um encanto