OS MAIAS
213

os cortinados côr d’ouro... Tudo manchado, tudo contaminado por aquella mentira primeira que ella dissera sorrindo, com os seus tranquillos olhos limpidos...

Abafava. Ia a descer a vidraça que faltava a correia — quando a tipoia parou de repente, na estrada solitaria... Abriu a portinhola. Uma mulher com um chale pela cabeça fallava ao cocheiro.

— Melanie!

— Ah, monsieur!

Carlos saltou precipitadamente. Era já proximo da quinta, na volta d’estrada, onde o muro fazia um recanto sob uma faia, defronte de sebes de piteiras resguardando campos d’olivedo. Carlos gritou ao cocheiro que seguisse e esperasse no portão da quinta. E ficou alli, no escuro, com Melanie encolhida no seu chale.

Que estava ella alli a fazer? Melanie parecia transtornada: contou que vinha procurar á villa uma carruagem, porque a senhora queria ir a Lisboa, ao Ramalhete... Ella julgára a tipoia vazia.

E apertava as mãos, dando as graças, com um immenso allivio. Ah! que felicidade, que felicidade ter elle vindo!... A senhora estava afflicta, nem jantára, perdida de chôro. O snr. Castro Gomes apparecera lá inesperadamente... A senhora, coitadinha, queria morrer!

Então Carlos, caminhando rente ao muro, interrogou Melanie. Como viera o outro? que dissera? como se despedira?... Melanie não ouvira nada.