OS MAIAS
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le negro muro estava ella, perdida de chôro, querendo morrer... E lentamente recomeçou a caminhar para o portão.

E agora, sem resistencia nenhuma do orgulho, fazia perguntas mais intimas a Melanie. Porque é que Maria Eduarda não lhe dissera a verdade?

Melanie encolheu os hombros. Não sabia: nem a senhora sabia! Estivera no Central como madame Gomes; alugára a casa da rua de S. Francisco como madame Gomes; recebera-o como madame Gomes... E assim se deixára ir, insensivelmente, conversando com elle, gostando d’elle, vindo para os Olivaes... E depois era tarde, já não se atrevera a confessar, toda enterrada assim na mentira, com medo de um desgosto...

Mas, exclamava Carlos, nunca imaginára ella que fatalmente tudo se descobriria um dia?

— Je ne sais pas, monsieur, je ne sais pas, murmurou Melanie quasi a chorar.

Depois eram outras curiosidades. Ella não esperava Castro Gomes? não suppunha que elle voltasse? não costumava fallar d’elle?...

— Oh non, monsieur, oh non!

Madame, desde que o senhor começára a ir todos os dias á rua de S. Francisco, considerára-se para sempre desligada do snr. Castro Gomes, nem fallava n’elle, nem queria que se fallasse... Antes d’isso a menina chamava sempre ao snr. Castro Gomes petit ami. Agora não lhe chamava nada. Tinham-lhe dito que já não havia petit ami...