E assim obtiveram o consentimento de Rosa — que fugiu, atirando a porta, com as mãos cheias de bolos para os pardaes.
Carlos levantou-se, tomou a cabeça de Maria entre as mãos, e contemplando-a profundamente, até á alma, murmurou n’um enlevo:
— És perfeita!
Ella desprendeu-se, com melancolia, d’aquella adoração que a perturbava.
— Escuta... Tenho ainda muito, muito que te dizer, infelizmente. Vamos para o nosso kiosque... Tu não tens nada que fazer, não? E que tenhas, hoje és meu... Vou já ter comtigo. Leva as tuas cigarettes.
Nos degraus do jardim, Carlos parou a olhar, a sentir a doçura velada do céo cinzento... E a vida pareceu-lhe adoravel, d’uma poesia fina e triste,assim envolta n’aquella nevoa macia onde nada resplandecia e nada cantava, e que tão favoravel era para que dois corações, desinteressados do mundo e em desharmonia com elle, se abandonassem juntos ao contínuo encanto de estremecerem juntos na mudez e na sombra.
— Vamos ter chuva, tio André, disse elle, passando junto do velho jardineiro que aparava o buxo.
O tio André, atarantado, arrancou o chapéo. Ah! uma gota d’agua era bem necessaria, depois da estiagem! O torrãosinho já estava com sêde! E em casa todos bons? A senhora? A menina?
— Tudo bom, tio André, obrigado.