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OS MAIAS

a essa vida tresnoitada de grogs e de baccarat.

A mamã chamava a Mac-Gren o «bébé». Era com effeito uma criança estouvada e feliz. Namorára-se d’ella logo com o ardor, a effusão, o impeto d’um irlandez; e prometteu-lhe fazel-a sua esposa apenas se emancipasse — porque Mac-Gren, menor ainda, vivia sobretudo das liberalidades de uma avó excentrica e rica que o adorava, e que habitava a Provença n’uma vasta quinta onde tinha feras em jaulas... E no entanto induzia-a sem cessar a fugir com elle, desesperado de a vêr entre aquelles Valachos que cheiravam a genebra. O seu desejo era leval-a para Fontainebleau, para um cottage com trepadeiras de que fallava sempre, e esperar ahi tranquillamente a maioridade que lhe traria duas mil libras de renda. Decerto, era uma situação falsa: mas preferivel a permanecer n’aquelle meio depravado e brutal onde ella a cada instante córava... A esse tempo a mamã parecia ir perdendo todo o senso, desarranjada de nervos, quasi irresponsavel. As difficuldades crescentes estonteavam-n’a; brigava com as criadas; bebia champagne «pour s’étourdir». Para satisfazer as exigencias de Mr. de Trevernnes empenhára as suas joias, e quasi todos os dias chorava com ciumes d’elle. Por fim houve uma penhora: uma noite tiveram d’enfardelar á pressa roupa n’um sacco, e ir dormir a um hotel. E, peor, peor que tudo! Mr. de Trevernnes começava a olhar para ella d’um modo que a assustava...