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OS MAIAS

Fôra uma exigencia da mamã. E em Londres ella, desorientada na enorme e estranha cidade, doente tambem, deixára-se levar pelas tontas idéas da mãe. Tomaram uma casa mobilada, muito cara, nos bairros de luxo, ao pé de Mayfair. A mamã fallava em organisar alli o centro de resistencia dos bonapartistas refugiados; no fundo, a desgraçada pensava em crear uma casa de jogo em Londres. Mas ai! eram outros tempos... Os imperialistas, sem imperio, não jogavam já o baccarat. E ellas em breve, sem rendimentos, gastando sempre, tinham-se achado com aquella dispendiosa casa, tres criados, contas colossaes e uma nota de cinco libras no fundo d’uma gaveta. E Mac-Gren mettido dentro de Paris, com meio milhão de prussianos em redor. Foi necessario vender todas as joias, vestidos, até as pelliças. Alugaram então, no bairro pobre de Soho, tres quartos mal mobilados. Era o lodging de Londres em toda a sua suja, solitaria tristeza; uma criadita unica, enfarruscada como um trapo; alguns carvões humidos fumegando mal na chaminé; e para jantar um pouco de carneiro frio e cerveja da esquina. Por fim faltára mesmo o escasso shilling para pagar o lodging. A mamã não sahia do catre, doente, succumbida, chorando. Ella ás vezes ao anoitecer, escondida n’um water-proof, levava ao prégo embrulhos de roupa (até roupa branca, até camisas!) para que ao menos não faltasse a Rosa a sua chicara de leite. As cartas que a mamã escrevia a alguns antigos companheiros