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OS MAIAS

só lhe podia dizer, passando-lhe as mãos tremulas pelos cabellos, que a havia de desforrar bem de todas as miserias passadas...

— Escuta ainda, murmurou ella, limpando as lagrimas. Ha só uma coisa mais que te quero dizer. E é a santa verdade, juro-te pela alma de Rosa! É que n’estas duas relações que tive o meu coração conservou-se adormecido... Dormiu sempre, sempre, sem sentir nada, sem desejar nada, até que te vi... E ainda te quero dizer outra coisa...

Um momento hesitou, coberta de rubor. Passára os braços em torno de Carlos, pendurada toda d’elle, com os olhos mergulhados nos seus. E foi mais baixo que balbuciou na derradeira, na absoluta confissão de todo o seu sêr:

— Além de ter o coração adormecido, o meu corpo permaneceu sempre frio, frio como um marmore...

Elle estreitou-a a si arrebatadamente: e os seus labios ficaram collados muito tempo, em silencio, completando, n’uma emoção nova e quasi virginal, a communhão perfeita das suas almas.

D’ahi a dias Carlos e Ega vinham n’uma victoria, pela estrada dos Olivaes, em caminho da Toca.

Toda essa manhã, no Ramalhete, Carlos estivera emfim contando ao Ega o impulso de paixão que