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OS MAIAS

pensava que Carlos, em resumo, adoptára para com o avô a complicada combinação que Maria Eduarda tentára para com elle — e imitava sem o sentir os subtis raciocinios d’ella.

— E acabou-se, continuava Carlos. Se elle na sua indulgencia aceitar tudo, bravo! dá-se uma grande festa no Ramalhete... Senão, foi-se! passaremos a viver cada um para seu lado, fazendo ambos prevalecer a superioridade de duas coisas excellentes: o avô as tradições do sangue, eu os direitos do coração.

E, vendo o Ega ainda silencioso:

— Que te parece? Dize lá. Tu andas tão falto de idéas, homem!

O outro sacudiu a cabeça, como despertando.

— Queres que te diga o que me parece, com franqueza? Que diabo, nós somos dois homens fallando como homens!... Então aqui está: teu avô tem quasi oitenta annos, tu tens vinte e sete ou o quer que seja... É doloroso dizel-o, ninguem o diz com mais dôr que eu, mas teu avô ha de morrer... Pois bem, espera até lá. Não cases. Suppõe que ella tem um pae muito velho, teimoso e caturra, que detesta o snr. Carlos da Maia e a sua barba em bico. Espera; continúa a vir á Toca, na tipoia do Mulato; e deixa teu avô acabar a sua velhice calma, sem desillusões e sem desgostos...

Carlos torcia o bigode, mudo, enterrado no fundo da victoria. Nunca, n’esses dias de inquietação, lhe acudira idéa tão sensata, tão facil! Sim, era