260
OS MAIAS

— Imagine v. exc.ª, disse elle a Maria Eduarda, que esse Craft me convida a almoçar. Venho, e o hortelão diz-me que o snr. Craft, criado e cozinheiro, tudo partira para o Porto; mas que o snr. Craft deixára um cartaz na sala... Vou á sala, e vejo dependurado ao pescoço d’um idolo japonez uma folha de papel com estas palavras pouco mais ou menos: «O deus Tchi tem a honra de convidar o snr. marquez, em nome de seu amo ausente, a passar á sala de jantar onde encontrará, n’um aparador, queijo e vinho, que é o almoço que basta ao homem forte.» E foi com effeito o meu almoço... Para não estar só, partilhei-o com o hortelão.

— Espero que se tivesse vingado! exclamou Maria rindo.

— Póde crêr, minha senhora... Convidei-o a jantar, e quando elle appareceu, vindo d’aqui da Toca, o meu guarda-portão disse-lhe que o snr. marquez fôra para longe, e que não havia nem pão nem queijo... Resultado: o Craft mandou-me uma duzia de magnificas garrafas de Chambertin. Esse deus Tchi nunca mais o tornei a vêr...

O deus Tchi lá estava, obeso e medonho. E, muito naturalmente, Carlos convidou o marquez a revisitar n’essa noite, á volta da casa do Vargas, o seu velho amigo Tchi.

O marquez veio, ás dez horas — e foi um serão encantador. Conseguiu sacudir logo a melancolia do Cruges, arrastando-o com mão de ferro para o piano; Maria cantou; palrou-se com graça; e aquelle