OS MAIAS
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Dedicar-lhe toda a sua affeição, toda a sua fortuna, certamente! Mas casar... E se tivesse um filho? O seu filho, já homem, altivo e puro, poderia um dia lêr n’uma Corneta do Diabo que sua mãi fôra amante d’um brazileiro, depois de ser amante d’um irlandez. E se seu filho lhe viesse gritar, n’uma bella indignação, «é uma calumnia?» — elle teria de baixar a cabeça, murmurar — «é uma verdade!» E seu filho veria para sempre collada a si aquella mãi de quem o mundo ignorava os martyrios e os encantos — mas de quem conhecia cruelmente os erros.

E ella mesma! Se elle appellasse para a sua razão, alta e tão recta, mostrando-lhe as zombarias e as affrontas de que uma vil Corneta do Diabo poderia um dia trespassar o filho que d’elles nascesse — ella mesma o desligaria alegremente do seu voto, contente em entrar no Ramalhete pela escadinha secreta forrada de velludo côr de cereja, comtanto que em cima a esperasse um amor constante e forte... Nunca ella tornára, em todo o verão, a alludir a uma união differente d’essa em que os seus corações viviam tão lealmente, tão confortavelmente. Não, Maria não era uma devota, preoccupada «do peccado mortal»! Que lhe podia importar a estola banal do padre?...

Sim; mas elle que lhe pedira essa consagração na hora mais commovida do seu longo amor, iria dizer-lhe agora — «foi uma criancice, não pensemos mais n’isso, desculpa?» Não; nem o seu coração