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OS MAIAS

de obscuridade, n’um canto assim do mundo, á beira d’agua, onde ninguem o conhecesse nem houvesse Cornetas do Diabo, e elle pudesse ter a paz d’um simples e d’um pobre debaixo de quatro telhas, no seio de quem amava...

Maria gritou por elle da janella da sala de jantar, onde se debruçára a apanhar uma das ultimas rosas trepadeiras que ainda floriam.

— Que lindo tempo para viajar, Maria! — disse Carlos chegando, através da relva.

— Lisboa é tambem muito linda, agora, havendo sol...

— Pois sim, mas o Chiado, a coscovilhice, os politiquetes, as gazetas, todos os horrores... A mim está-me positivamente a appetecer uma cubata na Africa!

O almoço, por fim, foi demorado. Ia bater uma hora quando a caleche do Torto começou a rolar na estrada, ainda encharcada da chuva da noite. Logo adiante da villa, na descida, cruzaram um coupé que trepava n’um trote esfalfado. Maria julgou avistar n’elle de relance o chapéo branco e o monoculo do Ega... Pararam. E era com effeito o Ega, que reconhecera tambem a caleche da Toca, vinha já saltitando as lamas com longas pernadas de cegonha, chamando por Carlos.

Ao vêr Maria ficou atrapalhado:

— Que bella surpreza! Eu ia para lá... Vi o dia tão bonito, disse commigo...

— Bem, paga a tua tipoia, vem comnosco! atalhou