OS MAIAS
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jornalista estendeu logo a mão larga, d’unhas roídas, tremendo de reconhecimento e de esperança. Dera-lhe cinco libras que tinha, e a promessa de mais dez...

— É caro, mas que queres? continuou o Ega. Deixei-me atarantar, não regateei bastante... E emquanto a dizer quem é o cavalheiro que encommendou o artigo, o Palma, coitado, affirma que tem uma rapariga hespanhola a sustentar, que o senhorio lhe levantou o aluguer da casa, que Lisboa está carissima, que a litteratura n’este desgraçado paiz...

— Quanto quer elle?

— Cem mil reis. Mas, ameaçando-o com a policia, talvez desça a quarenta.

— Promette os cem, promette tudo, comtanto que eu tenha o nome... Quem te parece que seja?

Ega encolheu os hombros, deu um risco lento no chão com a bengala. E mais lentamente ainda foi considerando que o inspirador da Corneta devia ser alguem familiar com Castro Gomes; alguem frequentador da rua de S. Francisco; alguem conhecedor da Toca; alguem que tinha, por ciume ou vingança, um desejo ferrenho de magoar Carlos; alguem que sabia a historia de Maria; e emfim alguem que era um covarde...

— Estás a descrever o Damaso! exclamou Carlos, pallido e parando.

Ega encolheu de novo os hombros, tornou a riscar o chão: