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OS MAIAS

e lisura... E, se se entendessem, alli as entregava logo, essas provas que lhe estavam enchendo o bolsinho, pimponas e d’escachar! Tinha a carta do amigo que lhe encommendára a piada: a lista das pessoas a quem se devia mandar a Corneta: o rascunho do artigo a lapis...

— Quer cem mil reis por tudo isso? perguntou Carlos.

O Palma ficou um momento indeciso, ageitando as lunetas com os dedos molles. Mas o criado veio trazer a garrafa da genebra: e então o redactor da Corneta offereceu a «bebida» rasgadamente, puxou mesmo cadeiras para aquelles cavalheiros abancarem. Ambos recusaram — Carlos de pé junto da mesa onde terminára por pousar a bengala, Ega passando a outra gravura onde dois frades se emborrachavam. Depois, quando o criado sahiu, Ega acercou-se, tocou com bonhomia no hombro do jornalista:

— Cem mil reis são uma linda somma, Palma amigo! E olhe que se lhe offerecem por delicadeza comsigo. Porque artiguinhos como este da Corneta, apresentados na Boa-Hora, levam á grilheta!... Está claro, este caso é outro, vossê não teve intenção d’offender; mas levam á grilheta!... Foi assim que o Severino marchou para a Africa. Alli no porãosinho d’um navio, com ração de marujo e chibatadas. Desagradavel, muito desagradavel. Por isso eu quiz que tratassemos isto aqui, entre cavalheiros, e em amizade.